domingo, 4 de novembro de 2007

Um caso que não é apenas uma tragédia

Uma mãe matou uma menina de dois anos dentro da instituição para onde a criança tinha sido enviada pela Comissão de Protecção de Menores. E onde, manda a lógica, devia estar a ser protegida. Nomeadamente da mãe - que tinha perturbações psicológicas e já recusara várias vezes o internamento voluntário da criança.Um caso isolado, às vezes, é só um caso isolado. Uma loucura, azar ou acidente. Isso foi o que aconteceu à Fundação Zino, uma das mais prestigiadas do Funchal. Cumpriu a lei, permitindo as visitas que a mãe estava autorizada a fazer à criança. (Nestas circunstâncias essas visitas são legalmente incentivadas, assim como as demonstrações de afecto, como a oferta de doces ou alimentação.) E acabou no meio de uma tragédia. Mais uma vez, no dilema entre o direito da maternidade e o dever de proteger uma menor, a lei voltou a ter dificuldade em decidir pelo afastamento total de uma criança da sua mãe. É o que acontece muitas vezes, a maior parte delas sem resultados tão trágicos.Essa indecisão é a razão pela qual quase metade das 12 mil crianças que estão institucionalizadas vive nestes lares há mais de quatro anos, como dizem números divulgados pela Secretaria de Estado da Segurança Social. São números que deviam incentivar a um debate desapaixonado sobre esta matéria.
In Diário de Notícias, 4.11.2007

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